Alex ou Nilmar devem deixar o Inter. Talvez ambos. O futebol é um mundo efêmero. Já não dá para memorizar a escalação de um time com aquele gostinho de perenidade com que decorávamos os imperadores romanos: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Baita defesa. Ou os afluentes da margem direita do Amazonas: Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu. Um ataque arrasador.
Em um time, hoje, os nomes mudam num piscar de olhos. Rotatividade interessa aos atravessadores. O gramado do Beira-Rio e de outros estádios brasileiros tornaram-se pastagens para a engorda dos negócios internacionais. Mas essa rotatividade até que tem um lado bom: realça a tradição da camisa.
A do Inter fará um século em abril de 2009. Deste 2008, apesar da taça da Sul-Americana, a torcida colorada esperava mais. O sexto lugar no Brasileiro, embora não desonroso, é modesto para o potencial desse time. Quando ele superou o trauma da saída de Fernandão, era tarde para disputar o título.
Vamos tirar o chapéu para o São Paulo. Sem deixar de assinalar que, em matéria de títulos, quantidade e diversidade são igualmente importantes. Mais do mesmo pode não ser a melhor estratégia de sustentabilidade neste mundo turbulento em que grandes bancos se derretem como geleiras antárticas.
No atual cenário de incertezas, como gostam de dizer os economistas, por que o Inter haveria de botar todos os ovos na mesma cesta? As novas taças colocadas nas prateleiras do Beira-Rio, nos últimos anos, foram conquistadas em trilhas que incluem cidades tão díspares como Dubai, Yokohama, Buenos Aires. Nada contra Goiânia, Florianópolis, Ipatinga. Porém o nosso hexa, senão hepta, octa, já traz o selo multicultural que caracteriza o mundo contemporâneo.
Os jogadores passam, a camisa fica. O tricolor do Morumbi (não confundir com os demais) merece aplauso não apenas pelas novas estrelas colocadas sobre seu emblema, mas também por uma que jamais colocou. Sim, a da Segundona. Os clubes que a possuem tentam ocultá-la a qualquer custo. Arrancam-na, tentam disfarçar o rasgão. Levam a camisa na cerzideira, na calada da noite. Mas não adianta: não há cerzido invisível. Uma estrela da Segundona é para sempre, como os afluentes do Amazonas.
[Bom fim de ano a todos. Até 2009.]