Em sua última entrevista, quatro horas antes de ser assassinado, John Lennon falou de forma auspiciosa sobre o que chamou de feminização da sociedade. Talvez não tivesse sido tão otimista se vivesse para ver a Inglaterra sob o tacão de Margaret Thatcher.
Mas Lennon não tem culpa alguma. Naquela época, dezembro de 1980, todos nós víamos na ascensão das mulheres um sopro de vida na agenda do mundo. Na verdade, ainda penso assim. Com reservas. Explico-me. Em apenas três décadas, não ficou claro se as relações de trabalho se tornaram mais saudáveis com a justa proporção de mulheres.
Nas redações onde trabalhei, no passado, conheci ambientes femininos tão ácidos e belicosos quanto pode ser, por exemplo, um terreiro de briga de galos. Se os tomasse como referência, tenderia a pensar que a feminização da sociedade seria, quando muito, trocar seis por meia dúzia. Mas prefiro não pensar besteiras.
Ontem visitei uma grande empresa jornalística. Soube, com satisfação, que tanto nas redações quanto na cúpula a maior parte dos cargos decisórios é hoje ocupada por mulheres. Foi uma surpresa, mas não deveria ter sido. Há tempos percebo em minhas turmas da faculdade uma declinante proporção de rapazes. Já nem chega a 20%. Acho que o jornalismo se tornará uma profissão feminina, como no passado era a enfermagem.
Permitam-me expor minha tese de fundo de quintal. Lembremos que, desde o tempo das cavernas, as mulheres é que ensinavam aos filhos tudo o que eles precisavam saber, à exceção da caça. Pois bem, como no mundo moderno a educação tornou-se função da mídia, elas invadem esse território para resgatar o que sempre lhes pertenceu ao longo da história.
Em outras palavras, os usurpadores fomos nós, não elas. Assim sendo, acho melhor entregar a rapadura. Que elas sejam felizes e não se estressem muito. Não se estressarão: as mulheres sabem cuidar da sala de visitas. Quanto a nós, bem, vamos todos para o fundo do quintal. Ótimo lugar para se viver a vida. Elas mal sabem o que estão perdendo.