domingo, 9 de março de 2008

A VIDA ON LINE

Os ônibus de São Paulo mostram o aviso: Proibido o uso de aparelhos sonoros. Lei Municipal 6.681/65. Meus profundos conhecimentos jurídicos me permitem supor que os dois últimos algarismos referem-se ao ano. Desde 1965 (Help!) são 43 anos, tempo suficiente para uma lei pegar.

Essa, se pegou, só vale para o passageiro, não para quem explora a TV de bordo, cheia de anúncios. Pois dane-se o direito individual de ignorar baboseiras e novos lançamentos de xampus. No ônibus, no metrô, acabou o sossego.

Nos elevadores, além da TV, nota-se uma discreta redoma emborcada no teto. É a câmara do circuito interno. Ele grampeia o que cada um de nós faz lá dentro. Mesmo que você não faça nada, alguém saberá. É para o bem, uma voz dirá. Questão de segurança. É para que você, observado, possa gozar na plenitude o seu direito de não fazer nada no elevador. Até o dia em que ali houver serviço de bordo, bebedouro, engraxate, café expresso. Então afinal vão descobrir se você prefere açúcar ou adoçante.

Se querem “monitorar” você, não deviam informá-lo disso? Quando filmam, pelo menos colocam (a lei obriga, creio) o bonequinho amarelo com aquele aviso cretino, mas honesto: Sorria, você está sendo filmado.

Cresce a cada dia a teia tecnológica concebida para nos manter on line o tempo todo, desde que botamos o nariz fora de casa. George Orwell descreveu esse esquema de vigilância total em seu livro 1984, que apresenta o Big Brother pela primeira vez. Ele veio para ficar. Mas há esperança.

Hoje dei uma zapeada em Dez roteiros históricos a pé em São Paulo, livro recente da Ed. Narrativa-um. Ele propõe que se caminhe mais pela cidade. A idéia é boa para o corpo e a mente. Caminhar serve não apenas para queimar calorias, mas também para não queimar neurônios. Assim os poupamos da enxurrada de anúncios e informações indesejadas. Agora que as ruas estão livres de outdoors, a publicidade migra para os recintos fechados.

Não ouso aconselhar alguém a evitar elevadores, e usar mais as escadas. Mas ao entrar num deles pode-se dar as costas para a bolha negra no teto, que lembra uma sirene da polícia. Por falar nela, não faça gestos suspeitos no elevador. Nem com o batom ou o corta-unhas. De resto, fique tranqüilo: por enquanto a câmara ainda não lê pensamentos.

10 comentários:

disse...

De 1965 pra cá são 43 anos, Renato!
Alguém te deu o 'help' errado!
Bj,

Anônimo disse...

Help, Renato, Help para tudo o que nos aparece pela frente. bjs. MAmélia

Guilherme de São Paulo disse...

E para muita gente o melhor canal de televisão hoje em dia é, justamente, o do circuito interno do prédio. A pessoa passa dias e noites acompanhando a evolução dos fatos via elevador, anestesiada...
Bom, não muito diferente do que acontece com a maioria dos programas da nossa televisão!

se.shira disse...

Parece que vivemos o 1984 de George Orwell. O Grande Irmão (Big Brother) está em todo lugar vendo tudo que você faz. Andando na rua, nos bancos, nos supermercados, nas lojas, há sempre uma câmera espiando a gente. Até nas rodovias, os radares são implacáveis. Agora, se a gente entra num banco ou num supermercado com uma câmera fotográfica, eles se sentem incomodados e querem saber o quê estamos fotografando. Eles se sentem no direito de bisbilhotar tudo que fazemos mas não podemos tirar uma simples foto de uma cena interessante, apenas como um registro ou uma arte.

Priscila Ferreira disse...

Por que será que o BBB ainda faz tanto sucesso? Deveríamos estar acostumados à vigilância a que somos submetidos diariamente.

Anônimo disse...

Sinto uma enorme saudade do tempo em que a vigilância que mais me intimidava era a de Dona Nair, ilustre fofoqueira da Vila Olímpia do século passado.

Rene Santana disse...

Ola Renato.
O livro a que você se refere não seria o 1984 de George Orwell?
É nele que o Grande Irmão a tudo vê e a todos controla.
Abs
Rene

Um Professor Indignado disse...

Renato e amigos, num mundo em que há uma fortíssima desigualdade social e em que podemos morrer por um simples tênis, vocês querem o quê? Sinto-me incomodado, evidentemente, mas nem me preocupo mais. Se quiserem gravar eu bocejando no elevador, tropeçando nos buracos da Av. Paulista, olhando as belas mulheres de São Paulo, que façam! Alguns crimes hediondos já foram investigados, aqui e no exterior graças a essas câmeras ocultas. Agora, como cidadãos devemos exigir que as empresas e o poder público sejam mais transparentes em suas iniciativas de segurança.

Anônimo disse...

Oi, Renato!
Por enquanto, talvez, essa vigilância não consegue captar pensamentos. Quem sabe não estejam desenvolvendo um programa de computador, um ship ou alguma engenhoca que capte pensamentos, sentimentos ou odores (rsrs).
Talvez seja o preço a pagar por uma "pseuda" segurança.
Quanto à bisbilhotar a vida dos outros em suas ações mais cotidianas vem dos tempos do homens das cavernas e tornou-se uma "cultura pop" dos dias de hoje.
Um abraço!

Anônimo disse...

Olá caro Renato!
Estou compilando seus dados, que tanto pertencem a Orwell como aos BBB's.
Estamos diante da vigília absoluta em nossos telefones grampeados, pois bastou uma palavra de "Hasy goberno i soi contra" ou algo assim e - amigos para sempre! (lembra da melodia olímpica?)
Este foi o começo que já o feudalismo mostrava em punhos e tiras de aço e couro.
Bem vindo ao mundo!
Beijos da sua ex-aluna e atual tiéte: MIRIAM