segunda-feira, 16 de junho de 2008

ADEUS ÀS ARMAS

Recebo brilhantes comentários em mensagens particulares. O remetente se preserva, quando o tema é controverso, ou talvez imagine, equivocadamente, poupar-me da crítica aberta. Não é necessário. Lamento quando um comentário adverso não é compartilhado com meus dez ou doze leitores. Quinze, vá lá. Ainda caberiam numa Kombi.

Publicadas, essas críticas encantariam os que preferem reflexões articuladas em vez de adjazzcências. Se há debate autônomo entre leitores, libero-me da mochila de articulista e, com a leveza do blogueiro, saio em busca de novos temas.

Um velho amigo, jornalista e pintor, reprova-me ter colocado no mesmo saco um punhado de gatos de diferentes raças (Para entrar no clima). Ele acha que Bush e Putin são hors-concours, devido aos genocídios no Iraque e na Chechênia.

Mais do que ao aspecto político, naquele texto eu me referia ao caráter tosco, raso, por vezes ridículo, que caracteriza os políticos atuais. Lá onde antes se via um estadista, vemos uma toupeira de topete. É saudosismo, eu sei, pensar em tipos encantadores como Churchill, Václav Havel, Berlinguer, Gorbachev, ou mesmo Al Gore.

Ah, sim, o ambiente. Vamos fazer um devaneio, uma adjazzcência. Imaginemos que Lula, amanhã, acordasse achando que é Chávez. Manda 140 mil soldados (o efetivo que Bush mantém no Iraque) tomar de assalto a Amazônia e sustar de uma vez por todas a barbárie social e ambiental. Acabou a festa: nem mais uma árvore derrubada. Tratores e motosserras apreendidos e mostrados ao mundo como se fossem armas de destruição em massa. Não são?

Ah, mas peraí. Isto aqui não é a casa da mãe joana, uma republiqueta de bananas. Existe um Congresso. Vivemos em um estado de direito.

Vivemos? O Congresso pode protelar a defesa da Amazônia até onde isso interessar aos madeireiros e mineradores. O Brasil do século XIX protegeu até o fim os investimentos dos proprietários de escravos. Fomos o último país a acabar com a escravatura. O canetaço da princesa veio quando não havia mais riscos para a casa-grande.

Benjamin Franklin disse que quem não faz nada está perto de fazer o mal. Se isto é verdade, um genocídio pode ser cometido não só por intervenção, mas também por omissão. Empurrando com a barriga. Acredite, meu amigo: ainda cabem muitos gatos naquele saco.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Renato
Você tocou num belo tema adjacente ao tema central do nosso valioso e cobiçado meio ambiente: o papel do exército em tempos de paz.
Todo o treinamento e investimento necessário para impor a soberania aos frágeis vizinhos, deveria a meu ver, ser retribuído na forma de policiamento da aplicação das leis, nas áreas em que é praticamente impossível esta ação por milícias locais e politicamente influenciadas por interesses econômicos mesquinhos.
E não apostaria que esta iniciativa partisse do próprio exército, mas de uma reforma constitucional que refletisse a urgência e prioridade da questão ambiental. Mas,será que generais não tem filhos?
abraço
Antonio

Anônimo disse...

Desta vez, mais contigo estou.
Penso no tempo que todo mundo fala.
Ditaduras à parte, temos inflação (que já tem mais do que quatro anos) e todo mundo dizia "não ver"...
Ditadura ou Democracia?
Pois ainda acho que se a parte boa desta Ditadura pintasse por aqui, teríamos mais Educação, muito mais motivos para surgir idéias e modos de favorecer a Saúde, o Meio ambiente e meu coração, que está apertado e cada vez maior, não de prazer, com certeza.
Sinto falta quando me "esqueces" por duas semanas. Sei que começam as provas e o trabalho não é pouco!
Mas, enfim...
Beijos e até a próxima.
MIRIAM

Anônimo disse...

Caro Renato,

concordo com você... o nosso presidente, de fato, teria que acordar pensando que é outra pessoa. Isto porque o papel encenado por ele esgotou-se faz um belo tempo. Marina Silva caiu como caem diariamente seringueiras, figueiras, angicos... e ninguém faz nada. Em breve, teremos que trocar o nome do nosso país. Já que Brasil vem de pau-brasil, que é mais raro a cada novo dia, teremos que pensar em um nome derivado da nossa nova realidade. Quem sabe República da Extinção.

Um Professor Indignado disse...

Amigos e amigas, deixemos de sonhar. Somos hoje 6 bilhões de pessoas e seremos 9 bilhões em breve. E, além do consumismo (roupas de grife, automóveis cada vez mais velozes, viagens intercontinentais mais frequentes), teremos que alimentar toda essa gente. Ou investimos maciçamente em novas técnicas agrícolas (recentemente assisti reportagem sobre o cultivo molecular) e lutamos sistematicamente contra o desperdício (é só passar por qualquer praça de alimentação para constatar o fenômeno), ou teremos que reduzir drasticamente a população mundial. Já existem até movimentos propondo a extinção da Humanidade. E, como já disseram alguns ecologistas, se há produção de madeira é porque há consumidores de móveis e outros derivados. Deixemos de ser hipócritas; somos os principais responsáveis pela destruição do meio ambiente. O resto é lógica comercial, que interessa aos governos que dependem dos impostos.

Priscila Ferreira disse...

Sim, não basta fazer a coisa certa, é altamente nececessário deixar de fazer a coisa errada, e a coisa errada no caso da Amazâonia, da violência no Rio, da seca nordestina, do analfabetismo e de TODOS os problemas dessa "republiqueta" é descruzar os braços, sair de cima do muro, colocar as pernas que estão pro alto no chão! e andar, para frente, claro!