sábado, 28 de fevereiro de 2009

SEM ESTRELAS

Nas quartas-feiras, dou aulas no décimo andar às 7h30 da manhã. Vejo pela janela o centro de São Paulo como uma massa acinzentada. Entre prédios sombrios, um facho de sol penetra por uma brecha estreita e faz resplandecer a bandeira nacional. Vejo-a drapejar à contraluz, a uns 100 metros de distância.

Minha relação com a bandeira brasileira sempre foi ambígua. Acho sua combinação de cores uma das mais belas do mundo. O desenho, um horror. Há algo de infantilizado ou banal na superposição de figuras geométricas. E o
lema Ordem e progresso parece-me tão discutível quanto ineficaz, por ser escrito numa língua que, lá fora, quase ninguém entende.

Acho bregaça essa mania (mundial) de salpicar as bandeiras com estrelas. Melhor seria reservá-las para cotações de restaurantes. Os americanos têm na sua bandeira as estrelas todas arrumadinhas, como em prateleiras. Talvez no fundo preferissem ver o céu assim, e sob controle da Nasa.

Já a nossa bandeira, mais à vontade, expressa o jeitinho brasileiro. Mas foi idéia de um belga. Louis Cruls era
diretor do Observatório Nacional e amigo do imperador. Quando proclamaram a república, para não ficar em maus lençóis, ele antecipou-se ao destino. Concebeu uma nova bandeira ao gosto da ideologia dominante, o positivismo, e apressou-se a apresentá-la aos novos donos do poder. A posição das estrelas no círculo azul correspondia ao céu do Rio de Janeiro às 8h30 da manhã de 15 de novembro de 1889. Uma imagiem factível, ou naturalista, ao contrário da bandeira americana, que é burocrática.

Detalhe: o astrônomo usou a imagem do céu invertida, para que a estrela isolada ficasse acima da faixa branca. Bem, então já não é o céu do Rio. É o céu de Cruls. Houve ali, além da questão política, digamos, uma intervenção estética.

Hoje, 120 anos depois, não estaria na hora de se fazer outra intervenção estética na bandeira? De minha parte, prefiro tudo mais simples, como na do Japão. Sem estrelas.
Por isso proponho aquela, limpinha da silva xavier, que aparece lá em cima.

Vejam o que acham. Mas resolvam logo, antes que apareça um
outro Cruls (petista, tucano ou coisa que o valha) com a idéia de colocar na nova bandeira as estrelas que aparecem no céu de São Paulo 7h30 da manhã. Não aparece nenhuma, garanto. Pelo menos às quartas-feiras.

12 comentários:

Mauricio disse...

Pensei em aguardar os comentários para entender o espírito da coisa, mas, não me contive. Este é um site bissexto e quando finalmente sai um post novo, nós, que fizemos várias visitas infrutíferas, vamos logo comentando. Trata-se de humor ou de um projeto de design gráfico? Parece que o Renato colocou a faixa presidencial na bandeira. Nada mais pertinente: somos o país dos 84% de aprovação presidencial. Então, aí estaria aquele adereço que, para revolta dos opositores de plantão, custou R$ 38.000,00 à viúva. Isso porque a anterior estava assaz ensebada e precisaria mesmo ser trocada. É verdade que a faixa tem de ser confeccionada de acordo com as normas legais, mas, tudo que Lula faz gera polêmica. No caso do avião presidencial, por exemplo, ninguém se conforma que um ex-metalúrgico tenha de andar num avião tão caro. A culpa talvez seja dos construtores, as Bonbardiers da vida, que não fabricam aviões presidenciais populares, e das normas legais que exigem que a faixa presidencial tenha incrustações de pequenos diamantes.

Anônimo disse...

A história da bandeira é muito engraçada, tão perfeitamente brasileira. Mas acho que as novas faixas da bandeira da República Modernelliana do Brasil deveriam ser mais finas e um cadinho mais ao centro. Assim ficarão mais visíveis quando faltar vento...

Anônimo disse...

Caro Renato

Ainda cabe ao Brasil uma bandeira com as cores adotadas. Só acho que deveria haver uma outra, exclusiva para os brasileiros, que poderia ser toda preta ou cinza.

Seria o estandarte do bloco de foliões que se esforça tanto para acabar com as verdes matas, o ar puro que permite ver o céu azul, as riquezas amarelas e de todas as cores, e a alva pureza dos índios que aqui habitavam.

De preferência que hasteiem uma longe da outra.

Abraço
Antonio

Déborah Motooka disse...

Como dizem... Menos é mais! Rs. Bjs.

Adélia disse...

Caro amigo Renato: sempre achei que nós brasileiros não tivemos sorte com nossos símbolos nacionais. Temos um Hino cuja letra, além de complicada, é extensa demais. Poucos sabem cantar as duas partes, e um menor número entende o significado das palavras. Quanto à nossa bandeira, concordo com você e chego mesmo a desafiar quem consiga desenhá-la corretamente. A menos que seja astrônomo! Como você, também prefiro as coisas mais simples. Porém, amigo, sua sugestão é simplesmente horrível. Melhor continuar a escrever, que é o que você faz lindamente.
Um carinhoso abraço
Adélia Dias Baptista

Um Professor Indignado disse...

Nossa, pensei até que o Renato havia resolvido voltar para os Pampas gaúchos e largado São Paulo de vez. Dois meses sem escrever é tempo pacas! Há alguns anos, alguém escreveu uma matéria, nem sei em qual jornal ou revista, propondo mudanças na bandeira brasileira. Desenhar creio que ninguém consegue desenhar a bandeira brasileira, mas será que consegue desenhar outras? A do Japão é de uma simplicidade atroz, mas carrega uma simbologia muito forte. O nosso verde ou está acabando ou está sendo domesticado, o amarelo está nas mãos de banqueiros, o céu anda meio cinza e a faixa branca refere-se a uma paz que não existe. Houve até um fotógrafo que foi preso, quando recortou a bandeira e pediu a um general que colocasse a cara no buraco; o Renato deve conhecer melhor a história do que eu. Como o Renato parece que resolveu brincar com a bandeira (talvez ele esteja tão cético quanto eu sobre o futuro do País), e antes que ele resolva por no símbolo as cores do Internacional de Porto Alegre, sugiro uma furta-cor, com o retrato do Sarney no centro, carregando um cetro medieval. Ou com a foto do Lula jogando camisinhas para os passistas de escola de samba.

L. Roberto de Barros Santos disse...

Renato, agradeço sua atenção enviando-me a notícia da publicação. Quanto à bandeira...por ora eu tiraria os dizeres. Com o tempo daria outra e mais outra melhorada. Quer dizer, eu não, os teus tataranetos! PS - Sabe porque somos o país do futebol? Sabe porque há uma bola na bandeira dele? Entnão...é só coincidência?

Anônimo disse...

Gosto da proposta minimalista. Somente penso que tem muito verde para o pouco que ele tem significado.

Caso viesse a propor uma intervenção, eu deixaria a bandeira toda branca com estrelas também brancas. Ou verde, com estrelas verdes, e por aí vai. Ainda que não fosse possível vê-las, ao menos saberíamos e poderíamos afirmar que lá estão. Aí sim seria como em todo e qualquer céu.

e.t.: Jung tinha razão sobre a sincronicidade: por esses dias estive procurando estrelas [azuis] no céu e vim parar aqui. Ah, e claro, ainda procuro por todas elas.

Anônimo disse...

Renato, finalmente você ressurgiu no céu do Brasil! E sem estrelas?
Nada como tudo clean, não é verdade?
Estava com saudades de seus textos, e você retorna com um que é um primor!
Abraço

erika knoblauch disse...

Renato,
Também sou fã de uma forma clean para realmente dizer algo. De complicado e rebuscado chega o bicho ser humano.
abração, EK

abandoni disse...

Hahahah!!
Curto a ideia de redesenhar a bandeira, mas porque vc mexeu nas formas?
O losango amarelo e o circulo azul sao bacanas... e diferem das bandeiras mais comuns, com tudo retinho...
A moeda nacional podia ser alvo do seu proximo texto!
Critica sempre vai ter.

Anônimo disse...

Não, amigo, não seria uma boa. Este design da bandeira abstrata é HORRÍVEL!!!!!