Antes, como jornalista, jamais havia sonhado em ficar tanto tempo no mesmo emprego. Nem me passava pela cabeça um dia vir a ser professor. Felizmente, aconteceu. Trabalhar no ensino me deu chance de reavaliar, filtrar e organizar o que acumulei como saber de ofício ao longo de quatro décadas, nas atividades de escritor e jornalista. Ser professor, em suma, foi um privilégio da minha velhice.
Minha experiência como professor confirma uma premissa do psicólogo Carl Rogers que conheci ainda em meu primeiro ano como aluno da faculdade de Jornalismo: não podemos ensinar de modo direto, apenas facilitar aprendizagem de outra pessoa. Quem a escreveu a giz no quadro-negro da FAAP foi Isaac Epstein, meu professor genial e inesquecível.
Nunca me ocorreu escrever essa frase de Rogers, a canetão, em algum quadro-branco do Mackenzie. Talvez devesse tê-lo feito. Agora é tarde. Mas antes de sair de cena gostaria de repeti-la aqui como algo que me cabe transmitir aos jovens. Fora isso, espero ter passado duas ou três coisinhas úteis a pelo menos alguns dos milhares alunos que estiveram comigo nesses 14 anos. Mesmo quando em meio a um mar de indiferença, o professor sempre busca achar dois olhos brilhando durante a sua aula.
Dizem que vivemos tempos duros. Pode ser. Mas que tempos não foram duros? Sinceramente, não temo pelo que aguarda as novas gerações. Os melhores haverão de criar soluções. Alguns vão apoiá-los; outros, contestá-los. Foi sempre assim. Nada de novo sob o sol. Aos meus alunos, agora ex-alunos, insisto no seguinte: não se deixem levar por belas palavras, venham de onde vierem. Ousem buscar as palavras verdadeiras e exatas. Nossa missão é essa.
Ao me despedir, posto aqui uma das fotos que fiz há bastante tempo, por simples curtição, dentro do campus Higienópolis. Nela vemos o interior do prédio 35, o qual, pelo que me disseram, vão botar abaixo (sem comentários). Trabalhei bastante ali, nos primeiros anos. Muito me agradava estimular os jovens a escrever sob a primeira claridade da manhã.
Sentirei falta do ambiente universitário múltiplo e fervilhante, tal como era antes da quarentena. Não sentirei falta da burocracia acadêmica, por vezes sufocante, que a meu ver constitui outra espécie de pandemia. Essa nos condena a usar máscaras pesadas, embora invisíveis.
Sentirei saudade de alguns colegas com os quais gostaria de ter convivido mais, e se não o fiz foi talvez por negligência minha. Lamento isso, agora. Sempre tive e terei sempre grande apreço por pessoas com senso de humor e pensamento independente. Dessas, vou me lembrar por muito tempo. As outras, esquecerei tão rápido quanto serei esquecido.
💧 Texto publicado no Facebook em 24-6-2020
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