
Contraponto instigante. O marxismo interpreta a vida social de modo evolutivo. Uma flecha desliza no ar em busca de um alvo hipotético, a igualdade. Seu propulsor é a luta de classes. Ou seja, a oposição de forças contrárias.
O taoísmo enfatiza não a disputa, mas a alternância. Não se trata de um movimento progressivo, mas giratório. O alvo não é algo externo, distante. Em vez da flecha, temos um carrossel. O eterno retorno. A China gira em seu próprio eixo. Abre e fecha, abre e fecha, ao longo dos séculos. Ninguém a entende. Só depois.
Há dez anos os chineses, que ainda ostentam a foice e o martelo, preservam seu enclave capitalista, Hong Kong, como um ambiente de proveta para monitorar as mutações de um vírus. Mas aplicam o resultado desses estudos do lado de fora de suas fronteiras. Inundam o mundo com bugigangas a preços incomparáveis. Eles são possíveis, sabemos, à custa de uma massa humana submetida a um regime de trabalho não muito diferente dos antigos egípcios que carregavam pedras para as pirâmides.
Os chineses disseminam uma espécie de “capitalismo pit bull”, expressão que tomo emprestada de um professor da Unicamp, Francisco Foot Hardman. Os marxistas chamariam isso de “contradições”. Ué, onde já se viu acender uma vela para Deus e outra para o Diabo?
Mas o taoísmo não tem essa de “contradições”. Tudo está contido no símbolo yin-yang. Naquele círculo em preto-e-branco, que gira como um carrossel, uma bolinha (uma Hong Kong) indica a presença de cada um dos elementos dentro do campo oposto. O individualismo gera dentro de si uma espécie de nostalgia humanitária, e vice-versa.
Aos chineses de hoje caberá descobrir como será possível construir um mundo mais solidário sem abrir mão dos fones do ouvido. Sejamos otimistas. A salvação sempre foi um milagre.