Em Porto Alegre, um bagual foi assaltar a residência de um casal de velhinhos e entalou-se na chaminé da churrasqueira. A foto mostra duas pernas pendentes acima da grelha. Parece até um daqueles pastelões de Oscarito.
Houve casos similares no bairro paulistano do Tucuruvi e numa pizzaria de Belo Horizonte. Talvez outros, que a história não registra por terem acabado em pizza ou até, sabe-se lá, em churrasco.
Os gostos variam. Aposto que Léo Vázquez, se flagrasse um intruso entalado na sua churrasqueira, testaria a receita culinária que, dizem, os caetés teriam aplicado com amplo sucesso no bispo Sardinha.
Em compensação, a Anistia Internacional pode contar com os princípios humanitários de Ângelo Scannapieco. Apesar do sobrenome napolitano que remete à degola de ovelhas, ele acha que a ninguém deve ser dado o direito de fazer justiça pelas próprias mãos. Nem mesmo a quem vive num país cujas churrasqueiras costumam funcionar melhor que as instituições.
O bispo Sardinha era corrupto? Era. O homem entalado na churrasqueira era assaltante? Era. Mataria os velhinhos? Talvez. Mas e daí? Isso não cabe a você julgar, e sim às instâncias competentes, se assim o forem. Em suma: limite-se à sua churrasqueira, e deixe o resto com quem entende.
Eis o que pensa o Anjo, em oposição ao Leão. Ângelo é homem tolerante, aberto ao diálogo, defensor da justiça, dos direitos individuais, essas coisas todas. Para ele, ninguém merece mais o benefício do habeas corpus do que um homem entalado numa chaminé. Na época de Natal, seria até o caso de conceder a ele o benefício da dúvida, caso estivesse de roupa vermelha.
Enfim, o Anjo defende que todos devemos fazer uso da nossa parte angelical, se a tivermos de fato. Lutar pelos direitos humanos enquanto restar um fio de esperança (mesmo na ausência de John Wayne) de tudo acabar em pizza.
A mídia não publicará a matéria que eu gostaria de ler. Uma ampla pesquisa nacional a partir da seguinte questão: o que você faria se encontrasse um assaltante entalado na chaminé da sua churrasqueira? Não me atrevo a responder em nome de milhões de brasileiros. Mas, por dever de ofício, reporto aqui a opinião desses dois, o Leão e o Anjo, que conheço melhor que os demais.
5 comentários:
Pois sem churrasqueira e comprando as pizzas, morando em apartamento, nem Papai Noel e nem Anjo, só que não tenho lembrança de pizzas ou churrasquinhos de boa carne vermelha.
Com certeza vou ser proibida de comê-las em breve.
Então não sofrerei de sustos ao ser assaltada por moços fujões de lindas lareiras, quem sabe de outras formas mais modernas eu fique de olho e alcance a diferença de conquistar outras impressões.
Mas vou deixar suas dúvidas somarem-se as minhas, mais intensas, de que existem mil formas dos céus ajudarem as boas almas.
Quem sabe o ladrão compreenda que seu caminho é outro.
Beijos,
MIRIAM
Melhor começarmos a fazer churrasqueiras de saída estreita, pois difícil vai ser ele conseguir entrar e sair pela churrasqueira e aí sim vermos tudo acabado em pizza.
A lei brasileira é feita com omissões, para beneficiar processualmente as elites financeiras e econômicas do País. O que é mais grave: um assassinato ou um ato de corrupção? Na minha opinião, ambos deveriam levar a pena máxima. Mas, a sociedade brasileira assim não entende. E, mesmo os crimes hediondos, se cometidos por gente em boa situação financeira, acabam por levar muito tempo a serem punidos, isso se forem investigados. Somos um povo hipócrita em muitos sentidos, fruto de uma educação distorcida e de um escravagismo que permeou toda a nossa cultura histórica.
Renato, discordo. Acho que o ladrão deveria ter sido grelhado pelos velhos. Com sal grosso. De resto, velho guasca, os teus textos estão primorosos. Prossiga. Tens talento, és um belo escritor. Mário Chimanovitch
Renato, muito bom, precisamos mesmo tirar todos esses automóveis das ruas. Precisamos lembrar dos românticos e inocentes bondes de Rio Grande, de Porto Alegre (acho que rodaram até 70, o "Duque" até 71, coisa assim). Os "Zeppelins" já são usados para eventos esportivos. Import combater a ânsia para desativar, descartar, para não ter depois que correr atrás do que já se perdeu. Carlos Carrion
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