Uma amiga envia-me um convite para entrar numa corrente de apoio a um projeto de lei de 2007 de autoria do senador Cristovam Buarque. Não sou lá muito chegado nesse negócio de correntes pela internet. Mas endosso aqui, nestas adjazzcências, uma idéia que considero, além de justa, sensacional.
Buarque propõe que os políticos eleitos para qualquer cargo tenham de matricular seus filhos e dependentes em escolas públicas. (Pergunto-me qual seria esse percentual, hoje.) Se o projeto é viável, são outros quinhentos. Mas, se for, creio, pode constituir um ovo de Colombo na questão educacional no Brasil. A qual, como sabemos, é um filme de terror.
< De vampiros, acrescenta Leo Vázquez.
Não vou dar trela ao palpiteiro bissexto. Sabemos o quanto ele pode ser espevitado quando entra em cena. Anos atrás, imaginem, apoiou uma proposta para instalar relógios de ponto nas casas legislativas, para que todos pudéssemos verificar a assiduidade dos políticos em seus postos de trabalho. Agora Leo Vázquez defende uma espécie de Big Brother fiscalizador que teria como cenário os meandros do Congresso Nacional. Assim, todos nós, que pagamos regiamente os salários de nossas excelências, teríamos acesso (em tempo real) a seus cochichos e os conchavos.
Bem, quem sabe isso seja possível dentro de 100 ou 200 anos. Se o efeito estufa não derreter tudo nos próximos 50, claro. No futuro próximo, explico a Leo, eu já me daria por satisfeito se o projeto do senador Buarque fosse aprovado e entrasse em vigor. Os políticos seriam compelidos a se mexer para dar um jeito no ensino público, embora agindo em causa própria, como é do seu feitio.
Esse projeto justificaria um amplo plebiscito. Se ficar nas mãos dos políticos, vai para a gaveta da eternidade. Eles sabem: não se mexe em time que está ganhando. E ganham altos salários, gozam de indecentes imunidades e privilégios, entre os quais o maior de todos: o privilégio de estabelecer os próprios privilégios. Temos, na verdade, uma monarquia camuflada dentro da república.
Votei em Cristovam Buarque na última ou penúltima eleição. Sabia que não tinha chance. Não me arrependo. Outra chance (maior) se abre com um projeto assim, se a idéia crescer e pegar de jeito.
12 comentários:
Professor, só faltou o sr. divulgar o que é necessário para apoiar tal projeto... Adorei a idéia.
Abraços
Caro Renato
Tenho grandes discordâncias com a forma de agir do senador Cristóvam Buarque, mas poucas quanto a suas propostas...
Esse projeto é o PLS 480/2007. Em 29 MAI 2008, a CCJ apresentou requerimento para levar a questão à audiência pública, situação que até agora não aconteceu.
Informações sobre o PLS podem ser acompanhadas no endereço: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166.
ABRAÇOS
Um projeto supimpa!!!!!
Renato, ótima essa. Minha primeira reação foi dar uma risada! Proposta supimpa, proposta 100% utópica, bem humorada...
Ainda há uma tênue luz no fim do túnel, lá vêm Cristovam Buarque, Simon, Vasconcelos, Gabeira e mais uma meia duzia com suas tochas de seriedade. Linda proposta!
Compara-se a outra proposta, a do atual presidente da FINDES (Fed. Industrias do Espírito Santo) no sentido de que vereadores de cidades com menos de 100 mil habitantes não recebam nenhum salário por sua função legislativa. Ou a de Michael Moore no sentido do que os Congressistas americanos mandassem seus filhos para a Guerra do Iraque. Carlos Carrion
Colocar a discussão na roda já vale a pena. Não podemos desistir da utopia.
É, Renato, a idéia é boa, mas está parada nos escaninhos do Senado. Vai ver que os senadores não tiveram tempo de apreciá-la, entretidos com as pendengas da politicagem interna da Casa. Ou que seus funcionários, esses que embolsaram milionárias horas extras até no período de férias, não puderam agilizar o encaminhamento da proposta, de tão assoberbados que andam por trabalhos que só o Diabo sabe quais são.
Enfim, assino embaixo que a idéia é boa, o Cristovam é um destrambelhado mas tem boas intenções. Agora, francamente, cá entre nós, duvido que ela avance, vai ficar feito alma penada pelas comissões, sem ir a lugar algum, até que um dia seu autor não mais se eleja e vá parar na lata de lixo da História. Afinal, é como querer que os parlamentares usem o SUS para seus perrengues,que abram mão da verba de representação ou da semana de três dias em Brasília...
Abraços,
Luiza
Estariam os políticos assim reintegrados à realidade brasileira? Pousariam dos céus de Brasília de volta ao Brasil? E mesmo que os pimpolhos estudassem em escolas públicas fica a questão que uma outra participante mencionou e o SUS? Onde as pessoas esperam horas e são tratadas com frieza (eufemismo bravo). O transporte público nos qual a gente fica esperando no ponto e por milagre consegue sentar? O que será preciso para que a casta dos políticos entenda a quem servem, quem lhes paga o doce salário que só a nos amarga à boca? Bom, fui eleito para o Congresso, pensa o político, estou cheio da grana: 1. pintar o cabelo, 2. fazer plástica, 3. branquear os dentes, nós vimos muitos nos últimos tempos neste 1-2-3 (4,5...) até foi matéria em jornais. Então está ‘sobrando’, não? Talvez eles até gostem da idéia de não gastar com escolas particulares, assim sempre cabe uma injeção a mais de Botox.
Mas Modernell escreveu algo fundamental, “uma monarquia camuflada dentro da república”, a res publica (coisa pública) conceito que solucionaria a questão de ‘a quem pertence o espaço entre nossas casas?’, ‘quem pagará por obras que sirvam a todos?’ E assim vai, que estabelece (ou deveria) que cada cidadão avança de acordo com seus méritos próprios (não hereditários) fica para as ‘calendas gregas’ em detrimento do jogo dos apadrinhamentos e das afinidades eletivas. E a ausência de mecanismos de controle dá uma sensação de desânimo e imutabilidade.
Mas não me sinto à vontade de seguir sem uma ponderação, meu embasamento cultural e ético seria suficiente para em situação igual não agir de forma semelhante mesmo que em outro pólo (voltamos ao degelo)? Pior, achar que estaria sendo correta e que esta ‘correção’ pertencesse só a mim? Cada um sabe do monarca que esconde dentro de si, não só O Sombra...
Vamos nessa! E tem que valer também para a Universidade: não passou no vestibular, não tem vaga.
Gosto dos textos do Renato, são provocativos e muitas vezes divertidos. Como toda idéia, essa do senador deve ser considerada e debatida, apesar que somente se fala agora do Ronaldo Gorducho. Está virando até adjetivo, para todos os gordos e gordas deste País. Viável é, apesar de que teríamos uma nova indústria de fraudes, provavelmente. Agora, não sejamos ingênuos. Qual o objetivo do projeto? Melhorar a educação pública? Em quanto tempo? De que forma objetiva? Sem professores, não há educação que preste; e eles estão extremamente desvalorizados neste momento. Além disso, num País que um garoto de 17 anos ganha mais, jogando futebol, do que um professor, qual a motivação real para estudar? Hoje mesmo, falei com uma profissional que está incentivando o filho a frequentar uma escola de futebol, menino de classe média. O que precisamos é de um projeto nacional, que defina o Brasil para o futuro, seja agrícola, industrial, serviços, de alta tecnologia, etc. E com um radical planejamento familiar. Quanto aos políticos, eles são o que somos; basta estudar a biografia de cada um e perceberemos pontos comuns conosco, mais do que pensamos e achamos.
Caro Renato, temos algo em comum. Eu também costumo, de vez em quando, ceder às utopias. Embora lulista e petista votei mais de uma vez no professor Marcos Cintra, da FGV, para deputado federal e, agora, vereador. O professor Marcos é autor do projeto de imposto único que talvez nunca venha a ser aprovado. Atualmente é secretário municipal do trabalho na gestão Kassab. A gente sempre acredita que alguém mudará alguma coisa. Esse projeto do Cristovam, porém, é tão ingênuo e provocativo quanto o do finado Clodovil, que queria reduzir pela metade o número de deputados. Não sou a favor da inconsequência política. Penso que só se deve propor o que é viável. O ensino público no Brasil está uma caca, mas, já foi muito bom. Fiz o colegial no interior de São Paulo e prestei vestibular na faculdade de Direito da USP, sendo aprovado sem cursinho. Por que decaiu o ensino público? A meu ver foi a sociedade que decaiu em seus princípios, seus valores, e a escola, microcosmo da sociedade, decaiu junto. Os alunos não respeitam os professores porque nem os pais eles respeitam. Os professores não podem fazer nada porque a legislação os coloca em uma camisa de força. O aluno não pode ser admoestado, suspenso, expulso. Então a baderna impera. No meu tempo nós temíamos o inspetor de alunos, o diretor, os professores. Imperavam os princípios da hierarquia e da disciplina, hoje inexistentes. Houve evolução ou involução? Muitos dirão que evoluímos com a edição de novos diplomas legais, como o estatuto da criança e do adolescente. Uma coisa, porém, eu considero irretorquível: sem a restauração da disciplina a educação não sairá do buraco.
Manero. Não acho nem um pouco utópico, e da minha parte está apoiado, vou repassar o post, levo super a sério. Assim como o projeto do reality show " Casa dos políticos" proposto pela Rita Lee, que parece piada, mas é totalmente pertinente. Acho que o Cristóvam tem boas chances. Já que eles riem da cara do povo a gente também tem que tentar resolver as coisas com sabedoria e um pouco de humor, porque não. Perfeita colocação do senador!!!! E ousada. Acho que o que falta agora é a pressão a gente fazer pressão. Vamos bombardear as caixas de e-mails dos senadores, e representantes do povo em geral. E vamos cobrar dos nossos amigos educadores, artistas, formadores de opinião em geral, a se colocarem sim, sem vergonha. Vergonha é aceitar tais absurdos!
Renato, sinto muito, mas esta proposta é uma demagogia só, embora, pelos comentários, bem sucedida. O que os filhos dos políticos têm a ver com nosso péssimo hábito de votar mal? Teriam tb que ser atendidos no SUS? Para ser uma proposta justa (embora demagógica por ser ilegal) teria que obrigar o político ele mesmo a algo (por exemplo usar o transporte público) ou nós todos às consequências das escolhas. O que já acontece.
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