Um clima de faroeste se instala entre nossas excelências, os parlamentares, quando discutem sobre a cota para negros nas universidades. Espanta-me que o assunto continue a dar pano para mangas. Invocam a ignomínia do passado para disfarçar a demagogia no presente.
Se aceitarmos a premissa, simplista e até racista (pelo avesso), de que disparidades históricas podem ser resolvidas pelo loteamento dos espaços sociais, então o que queremos ver é uma comédia. Não custa propor cota para índios nos ministérios; cota para japoneses na bateria das escolas de samba; cota para surdos nas sinfônicas; cota para canhotos no ranking do tênis; cota para anões nos times de basquete; cota para gagos nos telejornais; cota para brancos na defesa do Flamengo; cota para obesos no ataque do Corinthians (uma vaga já está ocupada); e, é claro, cota para fumantes no metrô, uma vez que o fumante não fuma porque quer, como bem sabemos, mas porque em algum momento foi vítima de uma propaganda enganosa que o governo permitiu. Parece ridículo? Pois é, mas vivemos em um país que já teve até ministro da desburocratização e a taxa de juros estabelecida na carta magna.
Uma intelectual renomada (não guardei o nome) disse na TV, um dia desses, que o sistema de cotas no ensino superior poderia ser "o ovo da serpente". A metáfora é pertinente. Lembrei-me de uma outra, de Antonio Cândido, que certa vez afirmou que "o Brasil é um andar de cima realizado e um andar de baixo esquecido".
A turma do café da manhã está cansada de saber que o problema da educação tem de ser sanado a partir da base, ampliando-a e qualificando-a. Isto tenderá a dissolver a seleção racial, naturalmente, sem cotas em lugar algum. Mexer em cima, engessando segmentos, é apenas um jeito de nivelar por baixo. Ou seja, pavimentar o caminho para as nulidades que já infestam a vida pública.
Esse bangue-bangue entre parlamentares é um retrato da nossa inadimplência cultural. Penso se não estaríamos mais bem servidos e representados caso houvesse no Congresso um percentual de pessoas comuns, não partidárias, sorteadas entre a população em geral. Isso funcionou bem na antiga Grécia. Seria, por assim dizer, um sistema de cotas reservadas ao acaso. Mas por acaso não foi a Grécia o berço da democracia?
17 comentários:
Bom argumento. Me fez pensar.
Abraço
Admiro a clareza com que vc expõe o pensamento, acredito, da maioria das pessoas sensatas.
O sistema de cotas é insano e cruel para a nossa cultura.
Ah, as cotas... ainda se insiste nisso, nessa ofensa aos negros, nessa suposta compensação de erros do passado, nessa enorme demagogia. É difícil de acreditar.
Carlos Carrion
PERMITA-ME DISCORDAR
Concordo com as cotas para negros nas universidades públicas, como política compensatória. Essas universidades são mantidas com o dinheiro do contribuinte (portanto, de toda a sociedade) e têm servido para formar os filhos da elite (acho que dessa distorção ninguém duvida e nem desconhece suas causas históricas). O Brasil tem sim uma dívida social com esse povo que foi trazido para cá à força e que serviu-o como escravo durante 400 anos!!! É pouco? Mas deixa eu ver se entendi seu argumento: negros na universidade é tão absurdo como surdo na orquestra ou anão no time de basquete?
Deise
Caríssimo,
Não será a primeira nem a última (ainda bem) que discordamos. Por mais exemplos de cotas excêntricas que raças, aparência e disfunções físicas possam produzir, e por mais exageros como esse do do ovo da serpente que um editorialista encomendado fez publicar na nossa imprensa e satisfez o dono do jornal.
A discussão vai além, muito além, eu creio.A começar pelo apartheid social a que foram submetidos, desde sempre, no Brasil, os desprovidos de bens, títulos e sobrenomes.
Talvez a gente concorde num ponto - o de que as cotas não podem se restringir à cor da pele. Aí, realmente, talvez a conversa nunca termine.
Quem sabe, amanhã, não estaremos discutindo ressarcimento aos imigrantes japoneses injustiçados durante a 2ª Guerra?
O problema mora no andar de baixo e no excesso de população dessa parte do edifício, e que, por obra da nossa história de injustiças sociais, é de maioria negra ou afrodescendente.
A propósito, tenho vários amigos negros, nenhum contra as cotas.
Acho mesmo que se torna mais difícil ainda, para nós, os carapálidas que descendemos dos imigrantes pobres ou miseráveis que um dia escolheram vir para o Brasil. Sou a favor das cotas por dois motivos que, no fundo, são sentimentais. Para mim, que fique bem claro, são mais importantes do que os lógicos, justamente por serem sentimentais.
O primeiro é uma dúvida ainda sem resposta. Surgiu numa conversa sobre preconceito, quando ouvi o desafio de um desses meus amigos (na verdade, uma mulher): eu não fazia ideia do quanto doía sentir-se invisível."A maioria das pessoas não me olha nos olhos quando cruzo com elas na calçada", me disse.Eu realmente não consegui imaginar o quanto pode doer.
O segundo motivo está na liberdade de escolha de outros povos tiveram quando emigraram para o Brasil, ainda que esse livre arbítrio pudesse ser exercido apenas entre a fome, a guerra ou a morte certa de um lado, e, do outro, e a última esperança para fugir dela, em qualquer lugar que fosse.
Pra encerrar, outro dia li um artigo interessante na Economist. Falava da miséria africana e trazia uma explicação muito razoável sobre o que hoje acontece lá: os imensos vazios demográficos que o tráfico de escravos criou no continente.
Saudades
Forte abraço
cotas raciais
...
Aprovo totalmente o humor para tratar essa questão, pq realmente parece estar virando diversão lá com os engravatados.
Concordo com cotas, mas não raciais. Apóio as cotas SOCIAIS, ou seja, qualquer um com um baixo nível de renda teria direito a cota, não importa se for negro, branco, pardo, azul, branco, verde, cor-de-rosa.... ACREDITO que cota para qualquer pessoa de baixa renda seria mais viável, e menos racista.
Nossa, finalmente esse blog pegou fogo! Tive um amigo negro que dizia que, na sociedade brasileira, o mais baixo nível social era representado por uma mulher negra, pobre, lésbica e feia. Terríveis palavras. Fico preocupado com tanta discussão, pois o excesso de retórica pode levar à inação, como acontece em outros campos de ideias. Como professor, já formei muitos negros e negras e sinto uma angústia quando percebo que eles são pessimamente considerados no mercado de trabalho. Somente em órgãos públicos há uma certa paridade, pois concurso não permite a priori preconceitos de espécie alguma. Defendo sim algum sistema de cotas, que contemple a presença de pessoas de baixa renda, em Universidades Públicas, sem distinção de etnias, religiões e tradições. Por um prazo limitado, porém: 25 anos ou uma geração. Temo porém que tenhamos uma nova fonte de corrupção; sabemos de gente que frauda o PROUNI, por exemplo. Além disso, as pessoas de baixa renda precisarão de algum apoio logístico, em termos de descontos em livros e em transporte farto e gratuito, talvez. Lembro de uma intervenção de alunos da Medicina da USP que comentaram não serem contrários às cotas, até porque os cotistas não suportariam o andamento do curso, que é integral e apresenta custos indiretos. Concordo que há uma certa demagogia no processo; nunca investiram em boa educação nos níveis primários e agora ficam correndo com soluções de emergência. E, Renato, a Grécia Antiga não era tão democrática assim.
Como muitos já disseram nesses comentários - sou a favor de cotas para pessoas com baixa renda.
Acho as cotas para negros em universidades uma grande fomentadora de preconceitos. Os alunos que não ingressaram na Universidade por cotas irão sempre olhar o negro que entrou por ela com um certo "ar de superioridade". Errei. Nem todos olharão dessa forma, mas grande parte olhará. Esse racismo cordial que existe na sociedade não será amenizado com nenhuma medida dessas.
Entendo a missão de saldar dívidas que as cotas carregam, mas acredito que melhorar a educação primária pública, fornecendo mais vagas com um ensino de qualidade, resolveria muito mais problemas do que essa solução paleativa, emergencial para estancar a hemorragia da problemática racial de um país que demorou pra cortar a escravidão.
Amigo Renato: sou, decididamente, contra cotas. Elas acentuam a desigualdade, produzindo efeito contrário ao objetivo desejado.
No entanto, mesmo sabendo que ninguém preencheria as condições exigidas, eu recomendaria a criação de cota para candidatos a parlamentares "comprovadamente" honestos, no presente e no passado.
Deixando a brincadeira de lado, ficamos com demagogia vergonhosa para iludir o povo ingênuo.
Abraços
Adélia Dias Baptista
Meu caríssimo Renato voce colocou fogo na discussão............o que anda dizendo a turma do café da manhã?
Gostei da maneira como vc conduziu a questão das cotas.Particularmente sou contra,creio que por conhecer muito bem as necessidades das populações menos favorecidas o que independe da cor da pele sem dúvida alguma.
Por outro lado gostaria de lembrar que não existem estudos sérios feitos sobre desenvolvimento econômico e necessidades do mercado voltados para formação de pessoal qualificado.
Qual a importancia de ter curso universitário para um mercado de trabalho saturado ,que necessita atender outras qualificações profissionais e que não oferece condiçoes para tal?
Abraços
eu gosto da cota para modelos negras. acho que isso é mais funcional que cotas para ensino.
não que haja racismo no mundo da moda, pois não acho que nesse meio exista neurônios para formar alguma espécie de opinião. Por exemplo, a Adidas House "Nazi" Party: https://www.blogger.com/comment.g?blogID=5182273206246943894&postID=7485317882073278842&pli=1 . O que eles precisam é só de uma espécie de polícia da sensibilidade.
KKeppler
Caro amigo Renato, como sempre você vai ao âmago da questão e, no caso em tela, estamos diante de um absurdo ou de uma demagogia barata e sem sentido. No Brasil,salvo melhor juízo, não vivemos diante de uma discriminação racial mas sim social.Nõs encontramos muitos "branquinhos" nas favelas sem ter para onde ir, na mesma condição que meninos de raça negra, mas somente quem entra nas favelas é quem sabe dessas coisas e não aqueles pretensos "tomadores de wisky" que adoram sentare-se nos bares charmosos dos jardins.
Em relação a educação, nós estamos diante dos especialistas que não foram às salas de aula de 1ª a 4ª série na periferia, pois são oriundos dos sistema universitário e dúvido que tenham andado de ônibus alguma vez na vida, mas adoram discursarem sobre o ensino lá onde tudo acontece e ninguém pergunta para a professorinha da sala de aula.
Eu não estou falando contra essa ou aquela pessoa, mesmo porque não estamos discutindo personalismo, mas sim de um sistema que precisa ser mudado para que possamos andar com um pouco mais de pé no chão.
Lá, século V a.C., aquele camarada que andava mulambento e era tido como um zé qualquer, começou a mostrar que o conhecimento existe para ser parido ( maiêutica) e não adinta ficar estático, achando que sabemos o suficiente para encontrarmos soluções enebriantes, pois temos que buscá-lo para chegarmos a perfeição. Esse camarada só chamava-se Sócrates, pois é, esse qualquer que discordou do intelectualismo dos "sofistas", em prol de uma educação democrática e real.
Caro Renato
Concordo contigo. Faço apenas uma observação não só o problema da educação tem de ser sanado a partir da base, de todas as áreas, especialmente da saúde, segurança pública, esporte, lazer, transportes... As soluções seriam muito mais fácilmente encontradas!!!
forte abraço!!!
boa semana
São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009
ELIO GASPARI
As cotas desmentiram as urucubacas
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Os negros desorganizariam as universidades, como a Abolição destruiria a economia brasileira
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QUEM ACOMPANHASSE os debates na Câmara dos Deputados em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do Rio de Janeiro:
"Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos perigos da desorganização do atual sistema de trabalho."
Livres os negros, as cidades seriam invadidas por "turbas ignaras", "gente refratária ao trabalho e ávida de ociosidade". A produção seria destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada.
Veio a Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou será que alguém duvida?).
Passados dez anos do início do debate em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para facilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos apresentados contra essa iniciativa.
De saída, veio a advertência de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai completar 18 anos e não se registraram casos significativos de exacerbação. Há cerca de 500 mandados de segurança no Judiciário, mas isso nada mais é que a livre disputa pelo direito.
Num curso paralelo veio a mandinga do não-vai-pegar. Hoje há em torno de 60 universidades públicas com sistemas de acesso orientados por cotas e nos últimos cinco anos já se diplomaram cerca de 10 mil jovens beneficiados pela iniciativa.
Havia outro argumento: sem preparo e sem recursos para se manter, os negros entrariam nas universidades, não conseguiriam acompanhar as aulas, desorganizariam os cursos e acabariam deixando as escolas.
Entre 2003 e 2007 a evasão entre os cotistas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi de 13%. No universo dos não cotistas, esse índice foi de 17%.
Quanto ao aproveitamento, na Uerj, os estudantes que entraram pelas cotas em 2003 conseguiram um desempenho pouco superior aos demais. Na Federal da B ahia, em 2005, os cotistas conseguiram rendimento igual ou melhor que os não cotistas em 32 dos 57 cursos. Em 11 dos 18 cursos de maior concorrência, os cotistas desempenharam-se melhor em 61 % das áreas.
De todas as mandingas lançadas contra as cotas, a mais cruel foi a que levantou o perigo da discriminação, pelos colegas, contra os cotistas.
Caso de pura transferência de preconceito. Não há notícia de tensões nos campus. Mesmo assim, seria ingenuidade acreditar que os negros não receberam olhares atravessados. Tudo bem, mas entraram para as universidades sustentadas pelo dinheiro público.
Tanto Michelle Obama quanto Sonia Sotomayor, uma filha de imigrantes portorriquenhos nomeada para a Suprema Corte, lembram até hoje dos olhares atravessados que receberam ao entrar na Universidade de Princeton. Michelle tratou do assunto em seu trabalho de conclusão do curso. Ela não conseguiu a matrícula por conta de cotas, mas pela prática de ações af irmativas, iniciada em 1964. Logo na universidade onde, em 1939, Radcliffe Heermance, seu poderoso diretor de admissões de 1922 a 1950, disse a um estudante negro admitido acidentalmente que aquela escola não era lugar para ele, pois "um estudante de cor será mais feliz num ambiente com outros de sua raça". Na carta em que escreveu isso, o doutor explicou que nem ele nem a universidade eram racistas
Renato, a turma do café da manhã está certíssima. Olha, essa turma pode até substituir o Conselho da República que nunca tem sido consultado. Esse negócio de quota é uma baboseira. A turma do café da manhã disse tudo: “está cansada de saber que o problema da educação tem de ser sanado a partir da base, ampliando-a e qualificando-a”. Esse negócio de quotas não deu certo nem nas eleições. Estabeleceram a quota de 20% para candidaturas de mulheres, mas, não surgiram interessadas. Não sei por que as mulheres não querem assumir seu papel na política. O que a turma do café da manhã tem a dizer sobre isso?
Ainda sobre as cotas....
Desculpe insistir nisso, Renato. mas é que seu blog é lido por muitos alunos e acho que esse tema é muito importante. Então repasso,mais uma vez, o artigo do Elio Gaspari (absolutamente lúcido), que demonstra também o porquê dos nossos políticos se ocuparem desse tema: afinal, é a sociedade que se ocupa, e não retóricamente.
Deise - aluna do 4A - Letras
ELIO GASPARI
A cota de sucesso da turma do ProUni
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Os pobres que entraram nas universidades privadas deram uma aula aos demófobos do andar de cima
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A DEMOFOBIA pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que, se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas, eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas.
Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segun da vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão).
O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real".
A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século 19. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da Dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor. Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos. Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.
A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição. Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os d onos de faculdades ainda lutam para derrubar:
"Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução".
A comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito.
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