terça-feira, 29 de dezembro de 2020

VAFFANCULO, 2020!

 


Como vocês, estou com a mão na maçaneta de 2021. Na outra mão, tenho um livro que chegou até mim – não recordo como – lá pelos idos de 1980. Surpreende-me que tenha sobrevivido aos tantos expurgos que fui obrigado a perpetrar em minha biblioteca ao mudar de residência. Seu título é Trans-Pacific Express. Trata-se de uma coletânea de relatos de viagem a diferentes países do Oriente, que algumas vezes citei a meus antigos alunos de jornalismo. Seu autor é Alberto Arbasino, renomado escritor e ensaísta italiano falecido aos 90 anos (mas não da covid) no último no último mês de março, quando a pandemia devastava Milão e descortinava este dantesco 2020.

Como sou um leitor de má memória, é curioso não ter esquecido, em quase quatro décadas, certa observação pontual de Arbasino sobre o comportamento dos australianos. Ele diz que as pessoas, na Austrália, sobretudo em ambientes abertos, costumam conversar mantendo entre si uma distância muito maior do que os europeus. Até dois metros, avalia Arbasino, mesmo no caso de conhecidos ou amigos que se encontram na rua.

Nunca fui à Austrália. Portanto, nunca tive chance de checar, por mim mesmo, se esse detalhe tão bem captado por um jornalista arguto corresponde mesmo a um hábito generalizado. No entanto, pude confirmá-lo pelo relato de uma querida amiga australiana que vive em São Paulo há quarenta anos, com visitas ao país de origem em intervalos de três ou quatro anos. Certa vez, após retornar da Austrália, contou-me que o pessoal por lá reclamara do fato de que ela estava “pegajosa” demais. Ao conversar com familiares e amigos, se mantinha próxima demais deles e os tocava de um jeito incomum, nela, antes de ter vindo morar no Brasil.

Parece-me plausível. Nós, brasileiros, somos mesmo “pegajosos”. Nossa tendência natural é conversar na praia, no parque, como se estivéssemos espremidos no elevador. Entre os povos do mundo, talvez estejamos entre aqueles que encontram maior dificuldade em respeitar o distanciamento social, para usar essa expressão da moda, hoje tão necessário que poderíamos chamá-lo de distanciamento vital. E isso não se deve apenas à negligência, apesar de essa ser outra especialidade nossa. Antes, pelo impulso primário em tocar o corpo do interlocutor, como para autenticar as palavras ditas. Os italianos o fazem com seus gestos operísticos; os budistas, com seu olhar sereno. Nós, com nosso jeito pegajoso, grudento, que atinge o ápice no carnaval.

No ócio desta quarentena, tento imaginar a explosão de protestos que teria estremecido o Brasil se algum dos nossos governantes houvesse tido a ideia de suspender o carnaval de 2020, como ocorrerá em 2021. Vale lembrar que no verão passado, com base nas notícias internacionais, já se podia ter como favas contadas que a covid logo nos atingiria em cheio. Pois bem, um político que tivesse tido peito de tomar essa atitude extrema, suspender o carnaval, teria poupado a vida de muita gente. Menos a dele próprio. Caso não fosse linchado, seria um suicídio político. Não queremos mais saber de tiranos. A ditadura é a lógica do dragão. A democracia é a lógica da boiada. Nós, brasileiros, ficamos com a segunda opção. Doa em quem doer.

Está doendo em nós mesmos. Agora, no final de dezembro, com a mão na maçaneta, sabemos muito bem como foi este impensável ano de 2020. Ele quase parece ficcional quando acordamos de manhã sem saber se ainda tem leite na geladeira e, caso negativo, se valeria a pena correr o risco de ir até a padaria. Sim, a padaria da esquina, local sagrado, democrático, último reduto do perfume do cotidiano, tão nutritivo quanto o próprio pão. Houve um tempo em que, ao ir até a padaria, não hesitávamos em tocar no ombro e até beijar a bochecha de pessoas conhecidas, mesmo que fosse um vizinho sem nome do andar de cima que algum dia nos emprestou um alicate. Será que tem alguma graça ir até a padaria usando máscara, em atitude esquiva e temerosa? 

Para que falar deste ano, se todos sabemos como ele foi, se o vivemos de cabo a rabo que nem uma boiada no curral? Ocupo-me em imaginar como será 2020 no futuro, visto pelo espelho retrovisor, quando as novas gerações o estudarem nos textos de história. Na minha infância, no Sul, os coroas se referiam com reverência a 1912 (a tragédia do Titanic) ou a 1941 (a grande enchente que transformou nossa cidade numa outra Veneza) como cifras carregadas de um significado marcante não só no mundo externo, mas na alma de cada um.

Hoje, quando vejo uma foto antiga em que aparece um carro com aquele trambolho na traseira, sei que ela foi feita durante a Segunda Guerra. O gasogênio é a marca de uma época. Talvez também seja assim quando nossos descendentes virem imagens atuais com pessoas usando máscaras dentro da padaria, ou melhor, dentro da pandemia. Não sabemos, em suma, se o ano prestes a terminar representará um ciclo momentâneo ou uma mudança de padrão, o começo de algo que não sabemos bem o que seja.

O ano de 1972, quando ativistas palestinos massacraram onze atletas olímpicos israelenses, talvez hoje nos parecesse mais sinistro se persistisse como isolado, tal como o naufrágio do Titanic. Não foi bem assim. Desde então, o terrorismo se alastrou como a gripe e entrou na agenda do mundo. Quem recorda a tragédia de setembro daquele ano na vila olímpica de Munique? Aquilo não passa uma travessura de moleques se comparada ao que haveria de ocorrer em 2001, quando outra safra de terroristas, gente que em 1972 ainda tomava mamadeira, foi capaz de destroçar as torres gêmeas em Nova York. Nem Hitler teria imaginado algo tão espetacular.

Como será 2020, o ano da pandemia, quando pensarmos nele, no futuro, ao deparar no fundo da gaveta com uma máscara comida pelas traças?  Na nossa memória, um ano só ganha forma definitiva depois que esfria, como um cuscuz. Enquanto ainda estamos na contagem regressiva para o ano-novo, nossa vontade é de fazer coro com os italianos nesse vídeo divertido que navega na nuvem: “Vaffanculo, 2020!”

Se as pandemias tiverem vindo para ficar, como aconteceu com o terrorismo, meio século atrás, estaremos mais treinados para nos defender. Aliás, já estamos, suponho. Como resultado paralelo das medidas de proteção que adotamos contra o coronavírus, é provável que, sem saber, tenhamos nos livrado de outras moléstias que também poderiam ter nos infernizado a vida. Acho que pode estar em curso, a duras penas, um avanço na saúde pública. Pequeno exemplo. Com ou sem a covid, vale a pena incorporar o hábito de não usar, dentro de casa, a mesma roupa e os mesmos sapatos com que chegamos da rua. A gente se acostuma. Escovar os dentes deve ter parecido uma extravagância aos olhos de nossos ancestrais mais remotos. Quase posso ouvi-los dar risadas. Risadas vazias de gente desdentada.

 Também podemos rir bastante, hoje, se imaginarmos que os foliões brasileiros pós-2020 se disponham a pular um carnaval sem pegação, que para muitos seria o mesmo que tomar cerveja quente. Basta que as pessoas mantenham entre si, nos bailes e nos blocos de rua, a área livre que se observa ao redor de cada integrante  das escolas de samba em desfiles oficiais.

Ora, direis, ouvir estrelas! E por que não? A pandemia de 2020 estava escrita nas estrelas enquanto pulávamos o último carnaval, com a nossa velha convicção de que Deus é brasileiro. Mas e se Deus for australiano? Calma. Não quero dizer com isso que os foliões brasileiros devam pular como cangurus nos futuros carnavais. Não ponham em minha boca coisas que eu não disse. O que quero dizer, isso sim, é que não seria má ideia cultivar o distanciamento social, na folia ou na padaria, como fazem os australianos ao conversar na rua, tal como observou Arbasino com seu olho clínico de jornalista.

Se a pandemia arrefecer, toda essa desgraça vai para a conta do ano de 2020, que se tornará uma cifra funesta. Se bobear, os marqueteiros de algum grande clube europeu vão inventar de banir número 20 da numeração das camisas do time, como fizeram os americanos com o andar 13 em alguns prédios. Basta o Barcelona ou o Liverpool lançarem a moda, e ela no dia seguinte chegará ao Ferrari e ao Liberal de São José do Norte, e dali para o Cocuruto e Bujuru, já nos areais do interior do município. A imitação é a única pandemia que jamais terá fim sobre a face da Terra.

A covid azedou 2020, mas não emplaca 2021. É o meu palpite, apenas isso. Prefiro pensar que aprendemos um monte de coisas sobre nós próprios, sobretudo, ao longo deste ano que chega ao fim. Todo aprendizado importante é duro, ácido, escorregadio, ainda mais quando feito às pressas, diante do perigo. Parece que não funciona, mesmo quando já funciona. O que fizemos durante este ano de 2020 foi aprender a enfrentar um inimigo que não é invencível, apenas invisível. Já sabemos que ele nos espreita no brilho da maçaneta da porta. Que vaffanculo!

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

UMA NOVA EXPERIÊNCIA DE LEITURA

                    Uma das boas coisas da quarentena, para mim, foi a iniciação no mundo dos e-books. Se isso não aconteceu antes, não foi por preconceito, mas por preguiça, e quem sabe também por algum receio de pular a cerca em relação aos livros impressos, fiéis companheiros de uma vida inteira. Uma bobagem, claro, mas o tempo nos ensina a respeitar certas bobagens.

Durante o inverno, ainda no primeiro pico da pandemia em São Paulo, sem chance de frequentar livrarias físicas para me inebriar com o perfume das pilhas de livros novos, afinal me dispus a providenciar um dispositivo eletrônico de leitura. Comprei pela internet. Chegou rápido, quase como uma pizza.

Mas demorei um pouco a decidir qual seria meu primeiro e-book. Depois de zapear pelas memórias de Churchill, que a plataforma disponibiliza parcialmente como degustação, sem custo, achei que a ocasião pedia um autor contemporâneo. Um jovem, mesmo sem o pedigree de Churchill, me parecia mais sintonizado com o upgrade tecnológico que estava prestes a ocorrer na quarentena de um aposentado do INSS.

> O que é isso, sr. Modernell? O senhor até que nem está tão velho assim...

Obrigado, mas vamos deixar esse assunto para outra ocasião. Agora estamos tratando da chegada do e-book na vida de um homem bastante rodado, e não do quanto esse homem possa estar mais ou menos próximo da vida eterna. Enquanto estamos por aqui, nunca é tarde para dar uma refrescada em nossos hábitos de leitura. Decidi estrear como leitor digital focando minha atenção em um autor com cuja obra eu nunca tivesse tido contato antes.  

Escolhi A ilha da infância, terceiro livro da série autobiográfica do norueguês Karl Ove Knausgård, um dos expoentes da chamada autoficção, gênero de escrita que tem estado em alta nos últimos tempos. Foi uma escolha acertada. Mais que isso, gratificante. Knausgård é, de fato, um autor que sabe escrever tanto nas linhas quanto nas entrelinhas, assim como se dizia que Tostão sabia jogar com a bola e também sem ela.

Gostei tanto da prosa solta de Knausgård, que na sequência inclui outro livro dele, A descoberta da escrita, o quinto da série, no conjunto de leituras que me apressei em programar para a primavera, quando a curva da pandemia começou a se achatar. Os demais livros da primeira leva foram A jangada de pedra, de José Saramago (já andava com saudades de sua sintaxe lusamente sinuosa); O museu da inocência, do turco Ohran Pamuk (do qual leio tudo o que sai); Sobre os ossos dos mortos, da polonesa Olga Tokarczuk; e Noturnos – Histórias de música e anoitecer, do japonês Kazuo Ishiguro. Mais tarde me dei conta de que esses quatro últimos autores são, todos eles, vencedores do Nobel de Literatura, mas esse não foi um critério de escolha, apenas uma coincidência.

< Coincidência, sr. Modernell? Ah, não venha com essa!

Juro. Coincidência pura. Mesmo que Knausgård também venha a abiscoitar o seu Nobel daqui a alguns anos, o que considero provável, mesmo assim continuará a ser uma coincidência, repito, o fato de eu ter selecionado esses autores tão estrelados. Não acho que o Prêmio Nobel, ou qualquer outro, seja um selo de qualidade para o autor premiado, e menos ainda, claro, um demérito para os preteridos. Basta lembrar o caso clássico de Borges para colocar em xeque os critérios de concessão dessa honraria que os escandinavos sempre teimaram em lhe negar. Mas não era disso que eu queria falar aqui. O tema destas adjazzcências é o e-book ou, mais precisamente, o impacto que ele provocou em meus hábitos de leitura, tão drástico quanto as mudanças que a própria pandemia veio a causar no dia a dia de todos nós.

A primeira coisa que me seduziu nesse novo suporte de leitura foi a comodidade. Pode-se ler ao ar livre, sob a luz do sol, ou no meio da noite, se for o caso, sem acender a lâmpada de cabeceira, pois a tela se ajusta automaticamente a qualquer situação. É possível também determinar o tamanho da letra e diversos outros parâmetros de design gráfico, além de brilho e contraste, de modo que a leitura se torna muito menos cansativa do que em um livro impresso, ao menos para olhos já meio castigados pelo correr dos anos.

Porém a maior vantagem do dispositivo, a meu ver, está na portabilidade. No café da manhã, no banheiro, no elevador, no ônibus, na fila do supermercado, em qualquer situação fragmentada do cotidiano é possível acrescentar algumas páginas à leitura em andamento. Isso reforça uma sensação de continuidade, como se o texto jamais nos abandonasse, e a vida real, essa sim, se mostrasse entrecortada, às vezes até secundária, o que não é de todo ruim quando se é obrigado a ficar de quarentena.

A tela do aparelhinho indica a mesma página do livro em versão impressa e também a posição do trecho lido em determinado momento. Essas duas grandezas diferem, evidentemente, em um sistema que permite ao leitor alterar a diagramação. Bem, até aí morreu Neves, alguém dirá, prestando singela homenagem à memória de Nélson Rodrigues, que consagrou o dito.  É verdade, reconheço. Todos sabemos que qualquer publicação que se preze, desde a Bíblia até o manual da máquina de lavar, traz as páginas numeradas.  Sim, morreu Neves. Acontece que eu ainda não disse o mais importante: além das páginas e posições, no leitor de e-books é possível ativar o registro do percentual de leitura já realizada até o momento, ou seja, o quanto do livro já ficou para trás.

Esse pequeno recurso tecnológico me motivou a tentar uma nova experiência: ler ao mesmo tempo, e não um depois do outros, os cinco livros selecionados. Estabeleci a cota de 10% (cravados) de cada um deles em cada dia da semana, de segunda a sexta. Desse modo, a leitura avançaria de forma emparelhada, independentemente do tamanho e da divisão interna dos textos. A empreitada deveria estar concluída, portanto, em dez semanas. A programação semanal ficou assim: segunda-feira, 33 páginas de Saramago; terça, 62 de Knausgård; quarta, dia de feijoada, 25 de Tokarczuk; quinta, 56 de Pamuk; e sexta, 21 de Ishiguro. Era quase uma brincadeira. Mas levei a sério. Outra coisa que a gente aprende por aí é que certas brincadeiras, levadas a sério, se tornam mais divertidas.

Ao longo dessas dez semanas de primavera, esse esquema de leitura paralela me propiciou estabelecer conexões entre os cinco livros que, imagino, não teriam ocorrido se eu os tivesse lido, como de hábito, do modo aleatório e ocasional, só quando me dá vontade, e tudo bem. Peguei gosto por uma outra coisa, uma dinâmica de leitura, uma sincronia de atmosferas, algo que está além do enredo e das frases do texto.

Posso me explicar melhor fazendo um paralelo com a música. Se eu houvesse lido esses mesmos livros de forma estanque e sequencial, teria ouvido solos de cinco instrumentos diferentes, um de cada vez. Poderia apreciá-los como se o resto não existisse, já que essa é a prerrogativa natural de uma obra de arte. Lê-los dentro de uma escala “interativa”, digamos assim, foi ouvi-los tocar juntos como em um conjunto de música de câmara.

Recomendo uma experiência assim, ou semelhante, a quem deseja se aprimorar na escrita. A comparação quase imediata entre um punhado de autores evidencia seus truques e estratégias. Sei que nem todo mundo está interessado nisso. No entanto, mesmo a leitura de fruição pode ganhar outra dimensão com essas facilidades propiciadas pelo formato e-book. Pode-se ler, por exemplo, cinco biografias, cinco livros lidos na infância, cinco narrativas de viagem, cinco textos que retratam a vida em épocas de epidemia, e assim por diante. O critério de escolha das obras que entram no pacote deve ficar, é claro, por conta de cada um. Ou então  de quem se disponha a organizar um grupo de leitura compartilhada nas redes sociais.

< Vamos encerrando, sr. Modernell?

Sim, vamos encerrando. Mas antes gostaria de dizer duas coisas mais. A primeira delas é que minha empolgação pelo formato e-book, mesmo que não seja fogo de palha, pode ter sido exacerbada pelo júbilo de, pela primeira vez na vida, poder dedicar meu tempo disponível a leituras que me interessam. Antes, isso só acontecia nas férias ou em períodos de desemprego, minados pela aflição. Na maior parte do ano, primeiro como estudante, depois como jornalista e mais tarde como professor, sempre tive que ler pilhas de textos por dever de ofício. Não me queixo, é assim com todo mundo, mas também não posso deixar de observar que as toneladas de textos que li por obrigação profissional, ao longo dos anos e das décadas, não foram os que eu teria escolhido, se pudesse escolher.

Agora eu posso. Nunca imaginei que fosse tão prazeroso. Sem leituras obrigatórias, vindas de fora, sinto-me como um astronauta que se libertou da força da gravidade. O cara se move no ar como bem entende, para lá e para cá, quase sem peso, livre para decidir por si mesmo o que é o piso, o teto e parede. Sem a gravidade, dá tudo na mesma. Como, no meu caso, essa nova situação de vida coincide com a adoção de um novo dispositivo de leitura, eletrônico, pode ser que as duas novidades se confundam, conferindo a essa experiência uma dimensão que ela haverá de perder com o passar do tempo. Enfim, é o que temos para o momento.

< E a segunda coisa, sr. Modernell? Vamos lá.

A segunda coisa é esta: quero deixar claro que não pretendo abandonar os livros convencionais. Há neles algo de sagrado que a insípida eletrônica jamais conseguirá desbancar. Ainda que os futuros e-books sejam capazes de emitir o aroma do café que o personagem está tomando em determinada página, ainda assim apreciaremos esse gesto convertido em palavras impressas com tinta em um papel que irá amarelando com o passar dos anos, das décadas, até dos séculos, no qual sucessivos leitores atentos mas descuidados quem sabe venham a deixar suas próprias manchas de café.