domingo, 14 de dezembro de 2008

NÃO HÁ CERZIDO INVISÍVEL

Alex ou Nilmar devem deixar o Inter. Talvez ambos. O futebol é um mundo efêmero. Já não dá para memorizar a escalação de um time com aquele gostinho de perenidade com que decorávamos os imperadores romanos: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Baita defesa. Ou os afluentes da margem direita do Amazonas: Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu. Um ataque arrasador.

Em um time, hoje, os nomes mudam num piscar de olhos.
Rotatividade interessa aos atravessadores. O gramado do Beira-Rio e de outros estádios brasileiros tornaram-se pastagens para a engorda dos negócios internacionais. Mas essa rotatividade até que tem um lado bom: realça a tradição da camisa.

A do Inter fará um século em abril de 2009. Deste 2008, apesar da taça da Sul-Americana, a torcida colorada esperava mais. O
sexto lugar no Brasileiro, embora não desonroso, é modesto para o potencial desse time. Quando ele superou o trauma da saída de Fernandão, era tarde para disputar o título.

Vamos tirar o chapéu para o São Paulo. Sem deixar de assinalar que, em matéria de títulos, quantidade e diversidade são igualmente importantes. Mais do mesmo pode não ser a melhor estratégia de sustentabilidade neste mundo turbulento em que grandes bancos se derretem como geleiras antárticas.

No atual cenário de incertezas, como gostam de dizer os economistas, por que o Inter haveria de botar todos os ovos na mesma cesta?
As novas taças colocadas nas prateleiras do Beira-Rio, nos últimos anos, foram conquistadas em trilhas que incluem cidades tão díspares como Dubai, Yokohama, Buenos Aires. Nada contra Goiânia, Florianópolis, Ipatinga. Porém o nosso hexa, senão hepta, octa, já traz o selo multicultural que caracteriza o mundo contemporâneo.

Os jogadores passam, a camisa fica. O tricolor do Morumbi (não confundir com os demais) merece aplauso não apenas pelas novas estrelas colocadas sobre seu emblema, mas também por uma que jamais colocou. Sim, a da Segundona. Os clubes que a possuem tentam ocultá-la a qualquer custo. Arrancam-na, tentam disfarçar o rasgão. Levam a camisa na cerzideira, na calada da noite. Mas não adianta: não há cerzido invisível. Uma estrela da Segundona é para sempre, como os afluentes do Amazonas.

[Bom fim de ano a todos. Até 2009.]

7 comentários:

Anônimo disse...

Renato
é isso mesmo, naqueles tempos a gente sabia decorada as escalações por dois ou três anos do Colorado, do Grêmio, do Brasil de Pelotas. Hoje no futebol nada é perene, é tudo passageiro, banal. Nunca mais haverá comoções com a que ocorreu quando Volmir foi pro Inter ou com quando o Francisco "troca-troca" Horta patrocinou trocas entre o Flu e o Bota, o Flu e o Fla. Também quando o Flu pegou Rivelino, ou quando o Vasco pegou o "bonde" Tostão quase cego. Só não é banal aquilo que banaliza tudo, o dinheiro, o Senhor do Universo. Assim, pelo dinheiro, o São Paulo, nosso real Madrid, será o eterno campeão. Carlos Carrion

Adélia disse...

Amigo Renato: sou completamente anafabeta em futebol mas, mesmo ignorante, aprecio suas crônicas a respeito dessa "arte" tão disseminada entre nós. Guardo na memória, com muito carinho, a que levava o título sutil:" Em louvor do vermelho". Simplesmente fantástica!
Beijos
Adélia

Luiz Henrique disse...

Moderno, acho que estás sendo por demais modesto. Permite-me, antes, esclarecer aos que não acompanham o futebol de perto. Na Europa, a primeira divisão é a Copa dos Campeões. A segunda, a Copa da Uefa. Na América, a primeira divisão é a Libertadores, da qual o Inter já tem um título (o Grêmio tem dois...). E a segunda é a Sul-Americana, da qual o Inter acaba de sagrar-se campeão (o Grêmio, nunquinha). Assim, é uma injustiça deixar de lembrar este feito do teu colorado - é o Campeão de um torneio disputado pelos reservas do Grêmio, do São Paulo, do Palmeiras, pelos juvenis do Boca Juniors e pelos titulares do Inter. Parabéns por esta taça! E um grande abraço do Fruet

Anônimo disse...

Renato, escrevo de novo - li Roberto Pompeu de Toledo nesta última "Veja" - hoje os menonos não colecionam mais albuns de figutinhas de times do futebol brasileiro. Entre o Campeoanato estadual e o Brasileiro, num mesmo ano, mais da metade dos jogadores trocam de clube. Exceto, é claro, Rogério Ceni. Abraços, Carlos Carrion

Um Professor Indignado disse...

Futebol de novo? Com tantos assuntos inflamáveis ao nosso redor, ficamos a discutir o nosso ópio? Torço pelo Palmeiras, mas acho o meu time atual tão ridículo, que não gasto um tostão com ele. Agora, se for para pensar em potências no esporte, me desculpem, mas comparar o São Paulo com o Real Madrid é de um mau gosto que beira o ridículo. O time espanhol, se pudesse legalmente, comprava o Morumbi, os passes dos jogadores, a diretoria e ainda levava de lambuja o Parque Antarctica, o Parque São Jorge, a CBF, etc. Somos um País economicamente subdesenvolvido e não serão Bolsas Família e outros instrumentos que mudarão essa realidade em menos de 100 anos.

Anônimo disse...

Os clubes-empresa viraram marcas, e há anos só consideram o valor das suas camisas através dos patrocinadores que conseguem agregar.
As torcidas permanecem no mesmo sonho de sempre, imaginando que os jogadores têm compromisso com a camisa do seu clube atual, e dá pena observar como são manipuladas pelos empresários.
Os maiores clubes são usinas que farejam e forjam jogadores para exportação, pois, por alguma misteriosa e consagrada combinação genético-cultural, o brasileiro já nasce chutando bola e não poucos mostram um talento raro de se ver lá fora. E nessa equação, bastou adquirir o mínimo de destaque aos olhos dos clubes dispostos a pagar, o jogador é vendido sob os olhares mareados da sua última torcida.
Como parece impossível que os clubes (da direção aos jogadores) voltem a ter a mesma paixão das torcidas, cabe aos torcedores mais lúcidos concentrarem sua paixão no bom futebol, seja quais forem as cores dos times, como já faz o europeu, que paga alto para ver os melhores espetáculos, cuja babel de nacionalidades e culturas só afeta as entrevistas à imprensa.
No momento, do Brasil, com raras exceções, nos restam as transmissões européias na TV a cabo.
Abraço
Antonio

Mauricio disse...

Renato: sou seu admirador como jornalista e escritor - pena que já não possa dizer o mesmo do esportista. Você pisou na bola. Todos sabemos que o Inter tem muita história e o São Paulo continua a ser uma exceção no desarrumado futebol brasileiro. Não é motivo para você tripudiar sobre os outros clubes. O meu Palmeiras ostenta com o orgulho o troféu de campeão da segundona e estamos aí para dar a volta por cima. Vocês não perdem por esperar. O Brasil é a décima economia do mundo e a entrada de investimentos externos diretos em 2008 foi de 45 bilhões de dólares, a maior desde 1947. Infelizmente, nosso futebol permanece com a mesma estrutura do início do século passado: ao contrário da economia, não evoluiu nada. Não temos o futebol empresa como a maioria dos países, mas, o futebol mascate. Formamos craques para vender: em suma, estamos na condição de meros fornecedores de matéria prima. O Palmeiras, se Belluzo for confirmado como presidente, as parcerias com empresas poderão compensar a falta de estrutura administrativa e financeira do clube e levá-lo a novas conquistas. Saudações palmeirenses.